Pedro Courelas
Olá, podes dizer-nos quem é o Pedro Courelas?
É um gajo de Lisboa, descontraído e bem disposto, naquela fase da vida em que começamos a simplificar e a desfrutar verdadeiramente dos dias. Sou o típico Balança, hedonista, comunicativo, social e fascinado pelo
que é belo. Sou quase sempre um outsider e cada vez gosto mais de o ser, detesto rebanhos. Formei-me em História da Arte em 1999 e dou aulas no ensino oficial. A partir de 2004
comecei a fazer fotografia e fui-me apaixonando pelo click.
Quando começas a interessar-te pela fotografia? Como?
A fotografia surgiu tardiamente na minha vida. Sempre estive ligado às artes mas foi a música o primeiro amor. Estudei percussão e durante anos integrei diversos projectos musicais dentro do Jazz, dos Blues e do Funk. Mais tarde veio o ensino e a vida nómada de professor limitou a actividade musical ao estatuto de hobby. Foi nessa altura que surgiu a fotografia. A fotografia permitia-me também expressar a minha sensibilidade, captar e interpretar e, ao contrário da música, era algo mais individual. Era dono do meu tempo, fazia quando me apetecia e como queria, sem os necessários compromissos
que tens de ter quando integras uma banda. Fazia paisagem e sobretudo longas exposições, foi por
aí que comecei. Pertencia ao gang dos malucos que se levantam às 5 da manhã para irem para a beira mar ver o Sol nascer e desfocar as ondas.
Como tem sido o teu percurso?
Sou um bocado paraquedista em tudo o que faço. Tenho tido sorte nas ilhas em que tenho aterrado. Não faço planos para a vida para não estragar os planos que ela faz para mim.
Já experimentei um pouco de tudo em fotografia mas é a moda que mais me fascina. A fotografia tornou-se mais presente na minha vida desde 2010.
Alguns amigos da paisagem começaram a fazer umas coisas engraçadas para agências e desafiaram-me a experimentar. Malvados!
O que é que te motiva?
Como em tudo o que faço na vida, a grande motivação é o prazer. Tenho a sorte de não depender da fotografia e portanto não há cedências nem fretes. Fotografo quando quero, o que quero e com quem me dá prazer fotografar. Gosto de descobrir caras novas, de as produzir e
divulgar e depois de as ver ganhar visibilidade.



Sentes-te evoluir à medida que vais fotografando?
Quais os aspectos em que sentes uma maior evolução?
Na luz! É com ela que se faz fotografia e sinto que encontrei a minha.
A luta é sempre o estilo. Mesmo não querendo, há uma pressão do mercado para apresentarmos um estilo, algo que nos marque, que nos defina.
Anda tudo a rebentar com os brancos ou a tentar imitar o Testino ou a Soto. Continuo a preferir a frase do Picasso: “o meu estilo é o que
me apetece fazer no momento”.
Para além da fotografia, quem és tu?
Sou um idealista, um apaixonado pela vida, alguém que olha para isto como um iogurte com prazo de validade.
Consegues olhar o mundo com “olhos normais”, ou vês o mundo através do visor duma câmara?
Olho muito para o mundo e não gosto do que vejo. Trabalho com gente jovem e sinto que estão completamente lixados no que toca ao futuro.
A minha geração já foi um problema para encontrar alguma estabilidade, estas então…
E o pior é que muitos vivem anestesiados entre copos, praias e SMSs.
Falta mais book e menos face.
Qual a tua opinião sobre o projecto Amol?
A era digital trouxe-nos este potencial, a possibilidade de passarmos ao lado do mainstream editorial e comercial e divulgarmos o
que também merece visibilidade.
Haja entusiasmo.
Qual foi a pergunta que esquecemos de te fazer?
Porque é que só tenho fotos femininas no meu site? Como não perguntaram também não vou responder…
Que mais nos queres dizer?
Com uma camera e um free pass para o mundo dispensava o euromilhões.
E vocês?

E momentos de desmotivação?
Também há?
Não há! A vida é uma eterna Primavera. Fica quem tem de ficar, parte quem não faz sentido ficar.
Todos os dias nascem campos de flores maravilhosos…
Dentro de vários géneros , o que é que, em fotografia, mais te atrai?
Porquê?
A fotografia e a realidade visual na sua especificidade interessam-me pouco. Aquilo que me fascina é a imagem, a interpretação da realidade.
Sou um apaixonado por Pintura e por BD e acho que isso marca a minha interpretação da realidade.
Hoje qualquer camera de 100€ faz fotografia fantástica. Qualquer leigo com um pouco de sorte (luz) e com algum bom gosto consegue fazer uns
bonecos engraçados. A mim seduz-me mais uma espécie de iconização da imagem e dos retratados em especial.
É por isso que nunca achei piada a actions por exemplo. Cada fotografia é uma fotografia e exige
uma abordagem específica.
Qual é o teu projeto de sonho?
O meu projecto de sonho é o da satisfação. Claro que gostava de ter produção à altura das ideias mas não deixo que isso me impeça de continuar a caminhar.
Há na fotografia mestres que te inspirem? Quais?
Não tenho propriamente mestres mas há autores que acompanho por razões distintas.
Gosto muito do Steve McCurry porque o acho verdadeiro expressionista, tem uma força incrível.
Adoro a sua abordagem e o “seu” Calendário Pirelli marcou-me imenso. É um excelente exemplo de como se pode ser diferente das formatações da fotografia de moda. Sou também atento à escola russa. Acho que têm uma linguagem única e uma sensualidade que muito me atrai.
Se te dessem a possibilidade de escolher um/a modelo e um local para o/a fotografar, quais seriam as tuas escolhas?
Fotografar pessoas é sempre um acto de cumplicidade. Se não há cumplicidade instala-se a distância.
Um retrato tem de ter comunicação, tem de haver mãos e olhos.
Fotografamos muita gente mas essa cumplicidade não se estabelece com todos. Neste sentido, agarrava no gang do costume, enfiava-as num avião e aterrávamos na 5ª Avenida no meio dos táxis amarelos.












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Pedro Courelas